26 janeiro, 2005

Os novos habitantes das aldeias perdidas da Lousã

Sempre pudemos observar nas sociedades, ao longo dos tempos e em diferentes culturas, diversos tipos de êxodos ou de fugas populacionais. Sempre nos foi comum ouvir falar na História do êxodo rural, em que se saía das aldeias em busca da fantasia e das oportunidades (muitas vezes ilusórias) que o meio urbano tinha para oferecer.

Por: Amanda Alves

Hoje, vemos que muitos vieram para as cidades; que muitos encontraram as melhorias na qualidade de vida que desejavam... Mas que muitos não encontraram nada...

Viver em meios urbanos, reconheça-se, que tem que se lhe diga: aguentar a azáfama diária dos carros, do trânsito, dos horários restritos que são para cumprir sem vacilações, do emprego, do patrão, o stress dos ruídos, da rapidez... Enfim, milhentas coisas que nos fazem chegar a casa cansados, saturados. Talvez seja isso e outras mais recônditas razões que levaram algumas pessoas a se ‘refugiarem’ em pequenas aldeias perdidas numa montanha no centro de Portugal.

Com nomes perdidos no tempo, Catarredor e Vaqueirinho são duas pequenas aldeias de casas de pedra situadas na Serra da Lousã, que estão habitadas por pessoas que decidiram mudar a sua forma de viver. Na primeira, vivem apenas seis pessoas, todas do sexo masculino. Algumas são de origem alemã, mas na sua maioria são portugueses que ali habitam.

É uma aldeia sem crianças, com pouca gente: parece uma aldeia abandonada. Os seus habitantes vestem as roupas que lhes dão ou feitas por eles próprios e vivem da venda de artesanato aos que os visitam. De idades diversas, não querem saber de regras socias, dinheiro ou de estatuto: sustentam-se através de trabalhos esporádicos, apenas o suficiente para sobreviver. Dizem, como é o caso de Nuno Silva, de 20 anos, que vão para ali «à procura da tão desejada liberdade».
No meio do nada, sentem que podem fazer tudo ao seu jeito e ao seu tempo, sem as imposições das regras da sociedade. Nesta aldeia o tempo, o espaço, o modo de vida é de cada um: é uma opção singular criada por eles.

Há 16 anos que Dieter vive em Catarredor. É alemão e já percorreu vários cantos do mundo até chegar aqui, a Portugal. Nem ele encontra verdadeira explicação de como cá chegou: «talvez seguindo o rastro da liberdade...», divaga. Hoje tem 59 anos e pensa viver em Catarredor para o resto da vida, embora lamente que já não possa percorrer outros caminhos.

Desta primeira aldeia vamos até à segunda por um caminho estreito no meio da montanha, que encurtava a distância mas não a dificuldade. Finalmente, depois de muitos atalhos, caminhos sinuosos, chegamos a Vaqueirinho.

À primeira vista deserta, sem vivalma, fomos percorrendo os caminhos estreitos de pedra escorregadia observando os pormenores que nos mostravam que as casas afinal sempre estavam habitadas. Encontramos alguém que nos indica Negrett.

Negrett é alemã e vive em Vaqueirinho desde 1984. É a primeira moradora e, por isso, traz consigo muitas informações sobre esta comunidade. Entre solteiros e famílias, nesta aldeia vivem 16 pessoas. Também foram ali parar por causa da tão ambicionada liberdade. Liberdade de agir, de ser e de fazer, que a sociedade urbana não permite.

Negrett tem um bar, o ‘Fantasia’, que é o seu meio de subsistência. Aí realiza, por vezes, festas Punk, Reagge, Rock e de outros tipos de música. Normalmente, a estas festas vêm pessoas de vários locais. E, assim, chega um público próprio e característico que enche a aldeia de vida quando, de dia, ela parece deserta. Nesses dias, o desejo de quietude que tanto têm estes habitantes desaparece e transforma-se em trabalho árduo. Mas depois, tudo volta ao seu normal e o som das águas do rio volta a ser ouvido.

Vaqueirinho conta com algum apoio por parte da Câmara Municipal da Lousã, que vê a aldeia como um ponto turístico, sobretudo no Verão. Deste modo, em troca de habitação, àgua e luz, acolhem os visitantes com as honras de lugar turístico.

Voltamos para casa, para a cidade, com a sensação de que tudo era muito diferente da nossa realidade mas com a certeza que aqueles que ali vivem são, à sua maneira, felizes.

1 comentário:

Vaqueirinho, Serra da Lousã disse...

... e updates, não há?

obrigado!